Cartografia de Controvérsias – Anonimato nas redes e nas rua
Leave a commentAugust 14, 2013 by anonimatoprotestosbr

Foto na ocupação da Câmara de vereadores de Porto Alegre, postada no Facebook no dia 18 de julho de 2013
ANONIMATO #PROTESTOSBR
NAS RUAS E NAS REDES
Cartografia de Controvérsias
Brasil, junho de 2013
Desde o mês de junho de 2013 vêm ocorrendo protestos em diferentes cidades do Brasil. Inicialmente, tais manifestações foram motivadas pela reivindicação da revogação do aumento de R$0,20 na tarifa de ônibus em algumas capitais e, em alguns casos, tendo em vista a pauta da tarifa zero, como nas iniciativas doMovimento Passe Livre (MPL) em São Paulo. Contudo, tais protestos passaram por uma vertiginosa aceleração e expansão, em particular depois da manifestação do dia 13 de junho em São Paulo, marcada pelo confronto da força policial com os manifestantes, que deixou rastros espalhados pelas redes sociais na internet, na forma de vídeos, fotos, relatos etc. Os atos que seguiram esta data foram marcados pelo grande número de pessoas nas ruas, multiplicação das pautas e reivindicações (transporte público, crítica aos mega eventos esportivos, PEC37, corrupção, entre tantos), enfrentamento com a polícia e violência policial, intenso uso das redes digitais de comunicação (facebook, twitter, youtube, vimeo, tumblr etc), entre outras peculiaridades. Assim, ao falarmos dos #ProtestosBR estaremos tratando dessa articulação entre as redes e as ruas, usando essa expressão aglutinadora na forma de hashtag.
No contexto dessas manifestações, podemos destacar a controvérsia que diz respeito ao anonimato nas ruas e nas redes. Em um momento de articulação política entre diferentes coletivos sociotécnicos (ver lista de atores dosProtestosBR – in progress) podemos perceber as nuances deste anonimato expresso pelos atores em disputa, o que nos leva às seguintes questões:
Quais os usos, ações e funções políticas do anonimato em tais manifestações ocorridas no Brasil?
Quais as disputas de sentido em torno do anonimato?
Defendido ou execrado, explorado ou denunciado, o anonimato reflete tais conflitos políticos contemporâneos e suas dimensões estéticas de expressão, uma vez que é notável seu caráter performativo. O anonimato vem sendo difundido em iniciativas globais como um vetor de proposição de uma política horizontal, na qual a liderança é diluída em favor de uma produção de comum. Por outro lado, no caso brasileiro, devemos destacar o inciso IV do art. 5º da Constituição Federal que afirma – “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” – o que reforça o contraste entre tais práticas e a determinação da lei federal.
O anonimato de parte dos indivíduos que participaram das manifestações no Brasil foi, em certos casos, condenado pela mídia tradicional como representação de vandalismo, no entanto, a contrainformação colaborativa nas redes sociais, produzida pela própria população no decorrer das manifestações através de textos, de imagens de telefones celulares, câmeras fotográficas e de vídeo, indica que o uso de lenços, máscaras, gorros, camisas etc, pode ser associado tanto à proteção aos ataques da polícia nas ruas, como referência a símbolos presentes em outras manifestações que vêm ocorrendo no mundo. Além disso, o anonimato também mostrou sua vinculação à “cultura pop” através da máscara de Guy Fawkes, do filme “V de Vingança” (V for Vendetta), que proliferou nas redes sociais e nas ruas.
Deste modo, destacamos a controvérsia do anonimato nessas manifestações por ações heterogêneas e discrepantes, que levantam questões a respeito das relações entre: desobediência civil e discurso da autoridade; anonimato e impunidade; espaço público e máscara social; vigilância através das imagens e vigilância distribuída; identificação/referência política com o anonimato em outras manifestações históricas (movimento zapatista, lenços usados nos conflitos na Palestina, anonymous no Occupy Wall Street) e peculiaridades do anonimato em cada protesto, entre outras.