Atores e Ações
Leave a commentAtores e ações do anonimato nos #ProtestosBR
Os atores da controvérsia são apontados a partir das suas ações, que se afetam mutuamente dentro da rede. Compreendemos por atores tanto os humanos quanto os não-humanos que produzem diferença, interferindo diretamente na dinâmica da controvérsia.-
Manifestantes
As pessoas que foram às ruas protestar no mês de junho de 2013 possuíam diferentes perfis. Manifestantes aqui é uma multiplicidade implicada fisicamente nos protestos a partir de sua presença nas ruas. O aumento quantitativo desta presença ao longo do mês de junho é um dos vetores da controvérsia, assim como a frequência dos seus aparecimentos em espaços públicos desde então, que se articula diretamente com ações mobilizadas nas redes digitais de comunicação.
Ações:
Ir às ruas protestar, divulgar fotos e vídeos, fazer transmissões e comentários com relatos on-line, mobilizar novas manifestações.
Usar ou não usar mascaras, proteger-se da policia e de armamentos menos-letais.
-
Vândalos
Pessoas que vão às ruas e promovem nas manifestações o que tem sido chamado pela grande mídia e pela polícia de ‘atos de vandalismo’. Estes ‘atos de vandalismo’ englobam uma série de diferentes ações que vão desde a depredação de espaços simbólicos de poder político e econômico (Bancos, ALERJ, Rede Globo) até saques, pichações e queimada de lixo.
Os vândalos são frequentemente ligados a imagem do manifestante que cobre o rosto e tem sido utilizados pela polícia como justificativa para as intervenções policiais e uso de armamentos menos-letais em meio às manifestações. São frequentemente mencionados como incitadores da violência e geralmente referidos como uma categoria separada dos manifestantes.
A presença do vândalo gera controvérsias entre os próprios manifestantes. Enquanto alguns consideram válido os chamados ‘atos de vandalismo’ como ações políticas diretas, outros argumentam que a violência destes gestos ajuda a deslegitimizar as manifestações.
Para mais informações sobre a controvérsia dos vândalos nas manifestações brasileiras de Junho de 2013, acesse o site V de Vândalo
Ações:
Depredação de prédios públicos e propriedades privadas.
Queima de lixo e barricadas para impedir avanço dos policiais.
Os vândalos são usados como justificativa para a presença e uso de força policial nas manifestações.
-
Mascaras
Mascara de gás, lenços, mascara hospitalar, camisa no rosto, touca ninja, mascara anonymous etc.
Ações:
Esconder/proteger o rosto/identidade.
Usos estéticos das mascaras, performance política, identificação/referência política com o anonimato em outras manifestações históricas (movimento zapatista, anonymous no Occupy Wall Street), mascara social no espaço público.
-
Força Policial
PM, Choque, Bope, Força Nacional.
Policial sem nome no fardamento.
Policial infiltrado sem fardamento (P2).
Mascara de gás, touca ninja e capacete policial.
Armamentos menos-letais: spray de pimenta, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, balas de borracha, cacetetes, teaser.
Ações:
A presença policial é sempre justificada nas manifestações como forma de manter a ordem. Esta presença, porém, foi por muitas vezes acusada por outros atores (Manifestantes, Mídia Alternativa, Black Bloc, Anonymous) de provocar o caos e a desordem a partir do uso excessivo de violência.
A violência policial aos manifestantes tem muitas vezes, como consequência direta, a proteção do rosto, e logo, um dos usos do anonimato.
O uso de mascaras, ocultação de nome nas fardas ou ausência de farda, são ações questionadas pelos manifestantes, que em certos casos relacionam à truculência e à impunidade no meio policial. Por outro lado, a polícia tem usado registros fotográficos e audiovisuais para identificação e mesmo perseguição policial aos manifestantes.
-
Movimento/Tática Black Bloc
O movimento ou tática Black Bloc ficou mundialmente conhecido em 1999, com os confrontos ocorridos em Seattle, decorrentes da reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). O nome Black Bloc é utilizado pelo fato dos mascarados usarem predominantemente a cor preta e por formarem um cordão de isolamento entre a polícia e demais manifestantes, com a ideia de resistir ao enfrentamento policial.
Ações:
Nos #ProtestosBR, o movimento tornou-se um ator estratégico. A importância do movimento é percebida presencialmente nas ruas, na zona limítrofe e real em que manifestantes e força policial se encontram e se atritam.
Os indivíduos que agem nos Black Bloc’s – entendendo suas ações como performances políticas radicais – também realizam ações de destruição de símbolos da opressão econômica (agências bancárias, propriedades de multinacionais, vitrines de lojas de artigos supérfluos de luxo, sedes de instituições públicas estatais) como foi o caso da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), ocorrido em junho de 2013. Sua repercussão ajudou a disseminar expressões como “vândalos” e “baderneiros”, usadas comumente pela grande mídia e pela polícia.
Os Black Blocs utilizam as redes sociais (facebook, n-1, twitter, anonysocial etc) e outras tecnologias de comunicação (celulares, câmeras fotográficas, filmadoras) para criarem laços e estratégias de ação, como é o caso dos grupos sobre Black Bloc vinculados a cidades (Black Bloc RJ, Black Block SP etc), que articulam ações e estéticas através de círculos de afinidade.
A partir de páginas ou perfis, os indivíduos debatem a situação política atual, divulgam documentários e vídeos produzidos nas manifestações, publicações sobre anarquismo, técnicas de resistência urbana (como lidar com o spray de pimenta, coquetel molotov, manual contra o abuso policial, entre outros), poesia, música etc.
Nesta cartografia, selecionamos três perfis no facebook a fim de ilustrar a controvérsia: BlackBlocBR, Black Bloc Brasil e Black Bloc Rj. De maneira geral, tais perfis compartilham conteúdos em comum, que também se assemelham à outros perfis Black Bloc. Também se relaciona com os perfis Anonymous e com perfis pessoais de seus seguidores.
Clique no título para direcionar à descrição do perfil/página neste blog e na imagem para direcionar diretamente ao facebook:
-
Ideário Anonymous
Um “ideário anonymous” circula pela internet. Este conjunto de ideias relacionadas à imagem da mascara de Guy Fawkes, às vídeo-convocatórias pelo YouTube e à presença de manifestantes mascarados em protestos pelo mundo tem se organizado em torno de uma multiplicidade de perfis, mensagens e ações. No entanto, mesmo em meio a esta multiplicidade, os próprios atores que a veiculam na rede reiteram que Anonymous é uma ideia e não um grupo ou movimento. Como ideia, as ações deste ator vieram a ser associadas aos direitos à livre circulação de informações, à privacidade de dados pessoais na internet e contra qualquer forma de tentativa dos estados e organizações em controlar, vigiar ou restringir o acesso a dados de interesse público. Os valores, frases, atitudes e discursos veiculados pelo filme ‘V de Vingança’ em torno da necessidade de rebelião da população ante a opressão de qualquer governo também vieram a se integrar em meio a este ideário.
-
Mascara Anonymous
Mascara de Guy Fawkes (1570-1606), um soldado inglês católico que teve participação na “Conspiração da Pólvora”, na qual pretendia assassinar o rei protestante Jaime I. A mascara de Guy Fawkes era item recorrente nas comemorações do 5 de Novembro da Inglaterra, e foi re-apropriada por Lloyd e Moore na HQ “V de Vingança” (V for Vendetta), lançada na década de 1980. A mascara voltou a tornar-se popular com o lançamento do filme de mesmo nome em 2005. Depois disto, foi reapropriada como um meme (O ‘epic fail guy’) em meio às postagens no site 4chan, até aparecer nas primeiras manifestações organizadas nos fóruns do site em 2008.
A mascara de Guy Fawkes tornou-se assim uma imagem chave do ideário Anonymous, passando a ser associada a atos de hacktivismo na rede e de ativismo político nas ruas. Nos #ProtestosBR, tal mascara foi constantemente usada nas manifestações, bem como aconteceu em protestos urbanos outras partes do mundo (especialmente após o Occupy Wall Street em 2011).
-
Anonymous no Facebook
Nesta cartografia, selecionamos quatro perfis/páginas no facebook a fim de ilustrar a controvérsia: AnonymousBR, Anonymous Brasil, AnonymousBr4sil e Anonymous Rio. A relação entre tais páginas também foi analisada a partir de visualizações da rede estabelecida entre elas e pode ser lida aqui.
Ações
Divulgação das ações nos #ProtestosBR, eventos de atos via facebook e mesmo uma agenda dos protestos.
Divulgação de questões políticas em geral.
Produção de vídeos e compartilhamento no youtube.
Mobilização de atividades.
Popularizam o ideário anonymous no contexto brasileiro.
Clique no título para direcionar à descrição de perfil/página neste blog e na imagem para direcionar diretamente ao facebook:
-
Anonymous Brasil
-
Anonymous Rio
-
Dispositivos de registros audiovisuais (câmera fotográfica, câmera de vídeo, celular)
Dispositivos de registros audiovisuais são atores que se fazem intensamente presentes nas ruas, sendo usados tanto por parte dos manifestantes como da polícia, evidenciando um modo de observação e atuação nas manifestações políticas e em alguns casos, ações de vigilância.
É importante também notar que muitas vezes câmeras de manifestantes são alvos diretos da ação policial, que interrompem a operação e/ou confiscam o equipamento.
Ações:
Registro audiovisual.
-
Registros fotográficos e audiovisuais
Fotos, vídeos, memes são atores importantes nos #ProtestosBR, à partir de uma lógica colaborativa de compartilhamento de conteúdos através da internet, em plataformas e redes sociais, e de vigilância policial.
Ações:
Divulgação das manifestações, de performances e falas políticas.
Identificação (por parte da polícia) de manifestantes considerados criminosos.
Identificação (por parte dos manifestantes) de policiais em caso de abuso policial, policiais sem farda ou sem nome na farda.
No que tange especialmente o anonimato, difundem o ideário e a mascara Anonymous, e estabelecem uma relação mútua entre as performances do anonimato nas ruas e suas possibilidades de expressão visual nas redes.
Ver a página com a descrição de vídeos que abordam questões do anonimato nos #ProtestosBR.
-
Internet e Redes Sociais (Facebook, Youtube, Twitter, N-1, Vimeo)
Com a emergência dos dispositivos móveis de conexão com a internet, a ideia muito corrente no senso comum de uma oposição entre a rede e o espaço público declinou, em favor de uma concepção da internet como importante mediador entre a rede e a rua. No caso dos #ProtestoBR, as redes sociais e as conexões sem fio no espaço público exerceram um papel fundamental em muitos aspectos, que vão desde a criação de eventos às articulações estabelecidas nos próprios protestos.
Ações:
Viabilizam a criação e compartilhamento de eventos (as próprias manifestações, protestos).
Difunde a mascara e o ideário Anonymous através de memes, imagens e textos.
Compartilham e tornam públicos os registros fotográficos e audiovisuais.
Permitem a emergência de contra-narrativas, algumas delas provenientes de formas alternativas de mídia, como a “Mídia Ninja” e o “Rio na Rua”.
Congrega narrativas heterogêneas acerca dos protestos, muitas vezes em tensão com a grande mídia.
A popularidade e destaque recebido pelas transmissões feitas pela Mídia Alternativa influencia as notícias pautadas pela grande mídia, influenciando a cobertura midiática realizada pelos grandes veículos.
Possibilita, no calor dos acontecimentos, a articulação de ações contra a violência policial através do Twitter e de comunidades de troca de mensagem como o Whatsapp.
Permite o estabelecimento de conexões entre advogados e manifestantes detidos pela polícia.
-
Grande Mídia
O grupo que identificamos como “grande mídia” consiste em uma reunião de atores heterogêneos que só se justifica, do ponto de vista metodológico, em função das ações que desempenharam conjuntamente na polarização entre mídia independente e mídia tradicional de massa que afetou toda a rede dos #protestosBR, chegando a ser tematizada em cartazes que ocuparam as ruas. Exemplos de atores reunidos como “grande mídia” são os jornais Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, a revista Veja e as emissoras de televisão Globo
Ações:
Deram visibilidade às manifestações a partir dos jornalistas que sofreram violência policial nas primeiras manifestações em São Paulo e, com o desenrolar dos acontecimentos, dos próprios manifestantes.
Utilizam ostensivamente a categoria de vândalo(a) para designar manifestantes.
Produzem insatisfação nos manifestantes pela cobertura, inicialmente criminalizante, o que fez com que reivindicações ligadas à atuação da grande mídia no Brasil ingressasse a agenda das manifestações.
Diante da crítica à grande mídia por parte dos protestante, esta se vê impossibilitada, em diversos momentos, de cobrir os protestos desde dentro, produzindo imagens aéreas das manifestações, que diferem muito dos registros e narrativas dos manifestantes.
Criminaliza o anonimato nas manifestações, usando a categoria de vandalismo.
-
Mídia Alternativa
A mídia alternativa é formada por um conjunto de atores/autores de relatos, vídeos e fotografias sobre as manifestações. Apesar de incluir associações e organizações alternativas de mídia (como Mídia Ninja, Observatório de Favelas, Imagens do Povo, Pós-TV, entre outros), a mídia alternativa pode ser considerada como constituída também pelos próprios manifestantes que realizaram vídeos, montagens, transmissões via TwittCasting e fotografias em meio aos protestos, assim também como pelos atores que fizeram estes conteúdos circularem em meio às plataformas e redes sociais da internet.
Ações:
Fazer a cobertura presencial dos protestos.
Denunciar o uso abusivo de armamentos menos-letais, a violência e perseguição de policiais aos manifestantes.
Denunciar o anonimato de policiais sem identificação ou sem fardamento (Policiais infiltrados – P2).
Investigar acusações policiais contra manifestantes.
Contrapor e rebater o relato das manifestações efetuado pela Grande Mídia.