Grafos
Leave a commentOs Grafos foram desenvolvidos a partir dos perfis selecionados no Facebook ligados ao Ideário Anonymous e às Táticas Black Bloc (Ver Diagrama Ator-Rede e Atores e Ações para referência). Tendo como referências cartografias de redes do Labic e do MediaLab UFRJ, majoritariamente de conversas via twitter,uma primeira impressão é que uma cartografia do Facebook, se difere em vários aspectos destas últimas. Exatamente por não ser tanto um lugar de conversação e mais de divulgação, as formas de coletar informações se tornam distintas e no nosso ponto de vista, mais restritas. A ferramenta disponível para essa coleta é o aplicativo netvizz, que consegue registrar “likes”, quantidades de comentários, e relações entre fanpages e usuários.
Este primeiro grafo é resultado da coleta de informações de 500 posts anteriores aos dia 11 de julho de 2013 das fan-pages do Facebook dos seguintes grupos: AnonymousBRasil, Anonymous BRasil, AnonymousBR e AnonymousRio. As tabelas foram plotadas posteriormente no software gephi. Os ‘nós’ são publicações e usuários enquanto as ‘arestas’ são “likes” e comentários feitos por usuários nestas mesmas publicações. Um aspecto de análise tão importante no twitter são a autoridade e a centralidade, que permitem diagnosticar atores da rede. Aqui, as centralidades e autoridades já estão dadas: são os posts das fanpages. Dessa forma, a conversação é determinada. Enquanto que no twitter é possível identificar caminhos que a conversação teve durante um tempo e qual foram os autores que se destacaram.
Dessa forma não conseguimos analisar controvérsias claras. Mas podemos perceber diferenças em relação a outras cartografias similares. Especificamente em relação ao artigo “Pode ser, mas não é: há relação entre PT, PSDB, Anonymous e Passe Livre no Facebook?”, publicado no Labic (figura abaixo), onde há uma fraca intersecção de “curtidas” entre os grupos citados no título.
Voltando ao gráfico anterior, podemos notar que o grupo AnonymousBR possui uma densidade maior de posts com grande número de interações e o grupo AnonymousRio uma distância maior em relação aos outros 3 grupos onde estes estão. Mas há muita intersecção de usuários de uma forma geral entre todos os grupos. Sendo que essa intersecção é maior no casos do Anonymous Brasil e AnonymousBrasil nos posts com mais audiência, que geralmente são chamadas para manifestações. AnonymousBR e AnonymousRio compartilham portanto mais interações e possivelmente mais afinidades. É difícil tirar conclusões desse mapa, mas ele nos permite visualizar que os 4 grupos analisados têm bastante intersecções de usuários, diferentemente dos analisados no artigo citado. Este nos fornece uma boa análise sobre um desses grupos que responde às críticas anonimato e falta de clareza da posição destes grupos no espectro político-partidário.
BlacBloc
Neste caso analisamos as Páginas dos grupos BlackBlocRJ e BlackBlocBrasil. O grafo segue os mesmos princípios do anterior.
Podemos ver uma relação um pouco diferente na qual os grupos tem mais afinidades e os usuários compartilham de forma uniforme os “likes” e comentários, se tornando uma nuvem mais coesa. É necessário salientar que a fase BlackBloc, é uma fase de maior organização das narrativas, destacando-se uma centralidade na questão da violência policial e da defesa das manifestações, assim como repercussões na mídia sobre a ”ideologia” dos blackbloc e a controvérsia da mascára e do anonimato.
Podemos ver abaixo, a nuvem de palavras dos comentários de cada fanpage. e diferenças em relação as principais palavras utilizadas nos comentários dos posts.
Anonymous Rio
AnonymousBR
Anonymous Brasil
AnonymousBrasil
BlackBlocRJ
BlackBlocBrasil
Redes técnicas como atores
Nessa cartografia compreendemos como atores as redes técnicas, valendo traçar algumas considerações sobre elas. Em primeiro lugar o facebook se coloca como uma rede social não linear, onde o algorítimo que determina a ordem das publicações é fechado e obscuro (não podemos ler seu código fonte), além de ser personalizado para cada usuário, aparentemente a partir de seus gostos e suas relações mais recorrentes. Enquanto no twitter, por ser um rede linear e cronológica, de acordo com seus seguidores, recebe-se um fluxo de informação contínuo.
Outra diferença é que o Facebook se baseia muito mais em parâmetros de audiência como “likes” e “compartilhamentos” enquanto que o Twitter privilegia mais a conversação, a menção e o “retuíte”. Existe a quantidade de seguidores no Twitter e o cálculo de RTs. E também existem as menções e os compartilhamentos dentro do Facebook. Mas em linhas gerais, podemos identificar essas duas tendências. Por isso identificamos o twitter muito mais como uma plataforma de conversação enquanto o Facebook um espaço de difusão de informações. Outro elemento que nos revela essa tendência é que há um comportamento típico dentro do Facebook de se colocar imagens com textos ( e dessa forma, chamar mais atenção e consequentemente atrair mais audiência) enquanto que no twitter, prevalece o texto. Mais uma vez não podemos ignorar que há texto no facebook e há imagens no twitter – através de links -mas são sinais das características de cada rede social. Um último vestígio é o uso comum da #hashtag como organizadora de conversações no Twitter, enquanto que no Facebook é um recurso recém estabelecido e ainda pouco utilizado pelos usuários.
Identificamos também que a partir de um momento a ferramenta de eventos interna do facebook se tornou essencial para o agendamento de manifestações, no nosso entendimento, essa rede ganhou uma maior relevância no que se refere aos protestos de junho e julho. O que traz elementos contraditórios, pois uma semana antes da primeira grande manifestação, no dia 6 de junho, era divulgado a existência do PRISM através do vazamento de informações do analista da CIA, Edward Snowden, onde foi revelado o projeto técnico do programa para vigilância dos fluxos de informação que passam por redes proprietárias. Dentre as maiores: Facebook, Google, MSN, SKype e Youtube. O Twitter era o único que não estava nessa lista.
Não é nossa intenção aqui levantar a discussão sobre vigilância institucionalizada, mas chamar a atenção para esse fato que envolve a controvérsia sobre o anonimato. Afinal, é ele que está em jogo na operação destes arranjos técnicos. A disputa entre opacidade e anonimato que se revela nas mascaras, pode ser traduzida para a rede, nas questões que envolvem a privacidade e a vigilância digital.
Ironicamente, foi nesse contexto que emergiram as manifestações e a própria controvérsia do anonimato. Este papel de rede técnica como ator dessa controvérsia não pode ser desconsiderado. Ele é ativo nas críticas à falta de demandas claras das primeiras manifestações ( que se desdobra em uma critica ao Anonymous a partir da esquerda à um suposto direitismo) – afinal, como se organizar demandas em uma rede baseada na audiência e a partir de um algorítimo fechado? E também na disputa com a grande mídia pela narrativas – a criminalização do mascarado e a denúncia do policial anônimo.